sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Acerca das supermulheres... By Sara


No outro dia escutava um podcast acerca do espaço da mulher no mundo profissional. Comentavam-se as estatísticas que revelam uma percentagem ainda diminuta de mulheres em cargos de chefia, denunciando uma clara desvantagem de género. A dada altura apontou-se o dedo para um outro tema delicado que é a pausa na carreira aquando da maternidade.

Fiquei a pensar no assunto. Este tema interessa-me particularmente porque considero que é algo ainda mal resolvido nas “cabeças femininas”. Por vezes, também na minha...

Em quase todos os artigos que leio acerca deste tema é feita a ligação entre a progressão na carreira feminina e a constituição de família, a procriação. Como se fossem duas vertentes indissociáveis ou inevitáveis na vida de uma mulher! Será que para se ser verdadeiramente Mulher se tem de cumprir obrigatoriamente estes dois grandes marcos vitais? Porque é que não se escrevem artigos sobre os homens que decidem ter filhos e gozar em pleno as delícias da paternidade? Porque é que é apenas a mulher que tem de provar que consegue conciliar os seus vários projetos de vida? E porque é que têm de ser vários?

A pressão existe claramente no feminino. É à mulher que se espera que assegure os compromissos familiares e que concilie com a carreira. Uma mulher que tenha filhos e que singre profissionalmente é mais reconhecida do que a mulher independente que optou por não assegurar descendência. O dever é a família, o extra é a carreira... O inverso também se verifica para o homem: se ele for bem sucedido no trabalho, é reconhecido, mas está a cumprir com o que se espera dele; contudo, é-lhe dado destaque público se tiver a seu cargo os filhos. “Coitado, além de trabalhar ainda tem de tomar conta das crianças”, dizem as vozes do povo...

Para além das claras injustiças a que ambos os sexos estão sujeitos num ou noutro caso, o que a experiência me mostra é que as mulheres sofrem com estes preconceitos. (Eu sofro...) Até me atreveria a dizer que interiorizámos estas ideias feitas e acabámos por assumi-las como nossas também. Grande parte dos dilemas femininos resultam destas mensagens subliminares absorvidas e que, muitas vezes, nos levam inconscientemente a desejar ser outra pessoa. Mais do que a sociedade, acredito que é a própria mulher que deseja projetar de si uma imagem ilusória de supermulher... talvez por sentir que ainda tem muito para provar... a SI PRÓPRIA...


Sara


segunda-feira, 3 de novembro de 2014

UM JEITO MUITO PRÓPRIO DE AMAR... By Luisinha

         (Imagens do meu livro, "Dilemas Femininos", págs.: 75 e 162 - Luisinha)
















No outro dia os pensamentos fugiram-me para o Amor. Seguramente sou uma pessoa diferente e as minhas ideias devem de parecer estranhas para a maior parte das pessoas. Assumo as minhas singularidades. Mas também rejeito que todos tenhamos de sentir da mesma forma.

O tempo vai-nos moldando os pensamentos, as teorias, os sentimentos, o jeito de os viver e a forma de agir. Ao longo da minha vida, na maior parte das vezes, cada um destes aspetos pendeu para o seu lado e as contradições foram mais do que muitas. Tenho consciência que alimentei a áurea de mistério ao meu redor e que criei um espaço demasiado grande entre mim e as pessoas com quem mais convivi. Mas, será isso suficiente para me tornar uma pessoa destituída de sentimentos? Será que alguém foi mais prejudicado do que eu com esta postura? Quem é que, para além de eu própria, terá propriedade para opinar acerca do meu jeito particular de amar? Haverá formas de amar mais válidas do que outras?

Amei muito. Amei todos os projetos em que me envolvi. Sempre e com muita intensidade... como se fossem únicos e derradeiros. Amei as pessoas que fizeram parte da minha vida ainda que elas pudessem nem se aperceber... Amei a olhar em frente, para o futuro... Amei, amo e continuarei a amar.

Amei o meu trabalho (mais do que a carreira invejável que construi). A carreira foi o resultado do esforço e da dedicação com que me entreguei, nunca foi um objetivo. Esta foi desde o inicio uma característica que me distinguiu dos demais. Os meus objetivos sempre se prenderam com realizar bem o trabalho, com superar-me nos resultados, com o querer fazer sempre mais e melhor... Com honestidade, sem atropelar ninguém e sem entrar em guerras de poder...

Amei a minha família. Os meus pais que me deram o seu melhor. Amei-os sempre, mesmo quando me zanguei com as escolhas de vida que fizeram e que se distanciavam do que eu queria e sonhava. Amei-os na sua ignorância, mas sobretudo no seu amor. Amei a minha tia. Amei o seu (também) estranho modo de me amar, a sua excessiva preocupação com a minha educação e saúde, a sua exagerada austeridade. Foram precisos muitos anos para perceber que essa era a sua única  forma de me amar... Amei o António: o homem que eu imaginei e por quem me deixei iludir e enganar. Amei sobretudo o sonho do que poderíamos ter construído... e, na sua derrocada, recusei deixar-me voar de novo. Amei o meu filho tão precocemente de mim arrancado. Amei-o de tal forma que em sua homenagem decidi reerguer-me dos destroços deixados pela sua ausência. No meu lugar, alguns teriam desistido, mas, no desespero da perda, quis perpetuá-lo na minha vida continuando a lutar e a entregar-me de alma e coração às minhas causas diárias... para que ele pudesse ter orgulho em mim, do lugar onde me espera...

Amei a maioria das pessoas com quem trabalhei. Amei-as na distância que coloquei entre nós. Amei-as no respeito que por elas nutri e com que sempre as tratei. Amei particularmente as pessoas mais simples e vulneráveis, aquelas que ajudei sem que elas disso se apercebessem. Amei-as autenticamente pois nunca o fiz à espera do seu reconhecimento.

Amei de forma estranha, eu sei. Amei para mim, intensa e internamente. Amei sem esperar retorno, sem me expor ou dar visibilidade a mim própria. Amei sobretudo quando sofri. A cada abanão segui em frente dedicando-me a um novo amor. Com a fúria e a garra de quem sofre... e até me apaziguar. Amar foi a minha resposta aos percalços da vida!

Continuo a Amar! Hoje, amanhã e todos os outros dias que se seguirem! Na Fundação, nas causas que defendo, nas pequenas obras que vou empreendendo. Amo através da entrega pessoal. Este é o meu jeito de Amar... o que desenvolvi face a tudo o que vivi e que representa a minha história pessoal. Poderá não ser o melhor, mas é o meu e é verdadeiro.
  
Luisinha