sexta-feira, 25 de julho de 2014

WHERE DO WE BELONG, ANYWAY? By Carolina

We're on vacation, the desired holidays in our home country, back home. Fortunately we managed to come to Brazil every year since we plunged into the overseas adventure ...

It's so nice being back! I feel I come to recharge batteries, find the inspiration to return and face the many challenges of my nomadic life. Back to see the family, the places where we lived for so many years! I love to buy country products, here, where they have a special taste and the right appearance of being in their real context!  I spend the year dreaming about these back to origins days, where I can be myself without any kind of embarrassment, where I am not afraid to seek the unknown, where I can talk without fear of making mistakes... I feel 100% confident in these visits home!

Home?  Is it still home?  Where do we belong, anyway?  Where is our home? Will we, the 5 family members, get to name the same place as "home"? After all these years living outside Brazil, experiencing so many different countries, where do we belong? What is the true weight of citizenship in our subjective identification?

To be honest, I love coming back, longing for that feeling of confidence and security that seizes me whenever I step into my country. I am Brazilian, no doubt! Heart and soul! But, my home is not here anymore... I am a Brazilian foreigner, visiting homeland. I come on vacation to my country but I’m on the run. I'm not from here anymore... I love coming back - however, I'm glad to know I have some other place waiting for me. I'm relaxed (secretly glad) on going back to my comfort zone, which is in another place and is always changing... It‘s so strange, so very hard to admit! Home is where I live most of the year with my husband and my children. Home is where I live day to day with the joys and sorrows common to all life. Yes, home is where I have my life as a whole... wherever part of the world that is. The feeling of calm and tranquility, comfort and familiarity I feel at home... where I live… very far away from here...

How wise is life! How many "lessons"! And how many rounds I did to realize it... The place is important no more: ceases to be the moment we begin the effort to adapt to new cultures, new places, and new ways of being. We all changed and there is no "going back" because even if we return one day to Brazil, we accumulated experience that makes us different from those who never left and which we cannot and will not erase. If we do go back we’ll have to do a new adaptation effort, who knows if even more awkward and difficult... Living the crazy expatriation adventure in more than one country forces the family to open up to the outside, but simultaneously to close under the protective shell of its own identity. Home is no longer a physical space, because that is always changing; home are we, individuals, those remaining (the 5). And this home now belongs to the world, no longer fits in a country; even if as big as Brazil... borders lost its significance ...

This revelation has to be well kept: How would my family and my old time friends ever understand? How to forgive this “betrayal? How to grasp with the fact there’s no room for me here as all of them followed on with their lives and I feel they are different and further away… I understand this and plainly accept it. I still keep them preciously saved in a corner of my heart: not replacing them... just broadening the horizon. They are my roots, my foundations. I just continued to grow, adding more pillars. And they, what will they do with me? Is the feeling mutual?


Carolina

ONDE É QUE NÓS PERTENCEMOS, AFINAL?... By Carolina


Os dilemas da Carolina (páginas do livro)

Estamos de férias, nas nossas tão desejadas férias no nosso país, na nossa terra. Felizmente temos conseguido vir ao Brasil todos os anos desde a altura em que mergulhámos na aventura além-fronteiras...

É tão bom regressar!... Sinto que venho carregar baterias, buscar inspiração para no “retorno” enfrentar os inúmeros desafios da minha vida de nómada. Voltar a ver os familiares, os lugares por onde andámos tantos anos, comprar os produtos tão próprios do nosso país e que têm um outro sabor e uma outra aparência no seu contexto real!... Passo o ano a sonhar com estes dias de regresso às origens, quando posso ser eu sem qualquer constrangimento, onde não tenho receio de procurar o que desconheço, onde posso falar de impulso sem receio de errar... Volto a sentir-me 100% confiante nestas visitas a casa!

Casa?... Será ainda, casa?... Onde é que nós pertencemos, afinal?... Onde é que é a nossa casa? Conseguiremos os 5 membros da família designar o mesmo lugar como “casa”? Após estes anos todos a viver fora do Brasil, com experiências em tantos países diferentes, onde é que nós pertencemos? Qual o verdadeiro peso da cidadania na nossa identificação subjetiva?...

Para ser sincera, adoro voltar, anseio por esta sensação de confiança e de segurança que me invade sempre que piso o meu país. Sou brasileira, sem dúvida! De alma e coração!... Mas, a minha casa, não é mais aqui... Sou uma brasileira, estrangeira, a visitar a sua terra. Venho de férias ao meu país, estou de fugida. Mas, já não sou de cá... Amo demais voltar, contudo, fico contente por saber que tenho outro lugar à minha espera. Fico tranquila, secretamente feliz, por partir para a minha zona de conforto... que é outra e está em constante mudança... e, isso, é muito estranho, muito difícil de assumir... A minha casa é o lugar onde vivo a maior parte do ano com o meu marido e os meus filhos. A minha casa é onde eu vivo o dia a dia, com as alegrias e as tristezas comuns a todas as existências. Sim, a minha casa é onde eu tenho a minha vida como um todo... seja ela em que parte do mundo for. Aquela sensação de calma e de tranquilidade, de conforto e familiaridade eu sinto na casa onde eu habito... bem longe daqui!...

Que sábia é a vida! Quantos “ensinamentos”! E quantas voltas eu dei para perceber isto!... O lugar já não é importante. Deixa de o ser no momento em que iniciamos o esforço de adaptação a novas culturas, a novos lugares, a novas formas de estar. Mudámos todos e deixa de haver “volta atrás” porque mesmo se voltarmos um dia a viver no Brasil, nós temos uma experiência acumulada que nos torna diferentes dos que nunca saíram e que não podemos nem conseguimos apagar. Se voltarmos temos de fazer também aqui um novo esforço de adaptação, quem sabe se até mais esquisito e difícil... Viver a louca aventura da expatriação, em mais do que um país, obriga a família a abrir-se ao exterior, mas também, em simultâneo, a fechar-se numa concha protetora da sua identidade tão peculiar. A casa já não é um espaço físico, pois esse está sempre a mudar; a casa somos nós, as pessoas, os que permanecem. E esta casa pertence agora ao mundo, já nem num país com a grandeza do Brasil cabe mais... As fronteiras perderam a importância...

Esta revelação tem que ficar bem guardada: como iriam entender os meus familiares e amigos de sempre? Como perdoar esta “traição”?... Como compreender que eu já não tenho espaço aqui, que todos seguiram com as suas vidas e que, também eu ao voltar, os sinto diferentes e mais distantes?... Eu percebo isso e aceito-o com naturalidade. Continuo a guardar todos num cantinho bem precioso do meu coração, sem os substituir... somente alargando horizontes. Eles são as minhas origens, os meus alicerces. Só que continuei a crescer, a somar pilares. E eles, o que farão comigo? Haverá reciprocidade neste sentir?...

Carolina

Starting to post also in English

From now on I will broaden this adventure to English readers... because women’ dilemmas are natural, global and cross-cultural. Why just write in Portuguese? Which other language to select without overflowing this blog with texts and at the same time allow a bigger number of friends and fans to read my thoughts? Here comes the decision: English is commonly accepted as a universal language. So, I’m starting today to post in Portuguese and English.

This blog is a continuum to my book, written in Portuguese about women’ dilemmas – “Dilemas Femininos” in its original title. Texts will be signed by the characters in the book, Sara, Maria, Mafalda, Carolina and Luisinha. The criteria for signing relates to their own dilemmas, as shown on the book. Now and then you might be surprised by someone else, who knows…

I’m going to focus my thoughts and feelings on different life issues such as family, career, personal relationships, life choices, and health… always from a woman’s perspective… from these characters’ perspective…

I’d love to read your comments and suggestions as my main idea is to create a community where everybody will have a say: please share your life experiences, your points of view, your worries and your doubts as well as your accomplishments. Texts are only the starting point for a wider discussion;)

Ana

quinta-feira, 17 de julho de 2014

APRENDENDO A CRIAR LAÇOS, by Mafalda


Imagens do livro Dilemas Femininos, publicado pela Chiado Editora (2014)





Sinto um peso enorme na cabeça, os olhos teimam em fechar... Acumulo noites mal dormidas, com muitas interrupções do sono. O Rodrigo anda a dar sinais e nem sei bem como os interpretar. Tempos ouve em que nada disto me consumia, em que nem sequer percebia se os meus filhos tinham algum tipo de dificuldade – o meu chip estava completamente programado para outra direção.


Agora tudo é diferente e estranho. Sinto-me a dar os primeiros passos na aventura da maternidade e com dois filhos já crescidos. Foi preciso dar uns quantos tropeções, um deles com o pomposo nome de divórcio, para reorientar a minha vida e repensar as minhas escolhas. Ser mãe é simultaneamente delicioso e assustador! Começo a criar laços, a interagir mais e com alguma entrega emocional aos meus filhos. Vou devagar eu sei, mas este é o ritmo a que consigo caminhar. Criei uma agenda pessoal com horas destinadas exclusivamente a eles. Tive de o fazer, caso contrário, surgiriam sempre urgências inadiáveis no trabalho e era eu quem as teria de resolver. Foi assim no início: planeava, mas nunca concretizava. Havia sempre algo a desviar-me das minhas intenções. O maior imprevisto era o medo... da entrega, do desconhecido, das emoções, de entrar em terreno totalmente novo e sem me sentir preparada para o enfrentar.

Vale a pena? Sinto-me mais satisfeita com o meu novo “eu”? Tem dias, depende dos momentos... Valer, sim, vale. Sinto enormes dificuldades, tenho muito medo de errar, sinto-me completamente impreparada e o peso da responsabilidade pelo destino destes dois seres é gigante. Mas vale a pena. Cada dia que passa vale mais um bocadinho. Aprendo, entre apertos no coração e insónias noturnas, a sentir-me plena com um simples toque ou um sorriso sincero. As crianças são tão simples! Descubro que a felicidade são momentos, pequenas coisas... todas elas singelas e omissas nos livros sobre parentalidade (ou pelo menos, naqueles que eu fervorosamente li quando me decidi ser mãe de verdade). Fiz terapia, andei confusa anos e anos a fio, sempre insatisfeita. Curiosamente, encontro-me mais serena agora que saí da minha zona de conforto (que de conforto nada tinha e eu nem percebia!). Como somos seres estranhos: na minha área forte não era feliz e nem me sentia realizada; num campo novo, desconhecido, evitado por medo e algum egoísmo encontro finalmente Paz, Tranquilidade, Completude. Foram os meus filhos, estes pequenos rapazotes que tanto precisam de mim, foram eles que me ensinaram a parar, observar, deixar-me ir e sorrir... com tudo e por nada. Aprendi que a felicidade vai e vem, vem e vai, num ciclo sem dia nem hora marcada, surge do imprevisto, da imperfeição.

Há dias complicados. Hoje é um deles. Tenho tantos. Ando com a cabeça às voltas e apetecia-me fugir por umas horas para o “antigo planeta da Mafalda”. No trabalho sei que sou bem sucedida. Tenho poucas dúvidas, facilmente esbarro no sucesso, sinto-me segura e poderosa. Sei qual é o caminho e consigo prever os resultados. E as emoções não atrapalham... ficam guardadas numa caixinha onde não fazem mossa. É tão fácil fingir, refugiar-me. É tudo oco e também fugidio, mas não sinto medo. Não me sinto completa, mas também não tenho de enfrentar o medo e as dúvidas. Viver com as nossas emoções custa, é ambíguo, dá trabalho...