Minha cara Alice,
Não consigo esconder a emoção que o seu
texto me provocou! As lembranças que me despertou! Assistir à doença, à doença
grave, dos que nos são queridos é indescritivelmente doloroso. Não há palavras
para comentar essas experiências...
Eu vivi por duas vezes o pesadelo do
cancro em pessoas da minha família: um avô que era meu pai e a minha mãe.
Doença do corpo em mente lúcida. Doença com um peso brutal que deixa marcas
para sempre... Doença que provoca dor – física e mental. Porque a lucidez da
mente também dói. E muito. Ao próprio (por si e pelos que ama) e aos que
assistem ao desenrolar do processo num misto de esperança e de impotência.
O meu trauma é a doença do corpo. Por
isso, nunca pensei seriamente no drama da doença da mente. Mas só pode ser
igualmente doloroso. Uma mente que se esvazia de conteúdos!... A Razão é o que
o ser humano tem de mais particular e distinto! Como deve ser brutal a
consciência da perda irreversível da nossa essência! Sim, porque no processo de
degradação mental, as memórias de quem se foi não desaparecem de um dia para o
outro! Como devem ser violentos os confrontos internos com o que está a
acontecer!... Na doença da mente a lucidez vai-se apagando... e com ela o
sofrimento da consciência. Mas, e para os familiares que amam? Para eles, a
escuridão da mente continua a magoar. Na miséria de um corpo sem alma, ficam as
recordações permanentes da pessoa brilhante e especial de outrora. Sim, aqueles
que amamos foram/são sempre brilhantes e especiais...
As famílias sofrem sempre: por amor, por
gratidão, pela impotência de nada conseguir fazer para travar a decadência,
pelas memórias do passado, pelo comprometimento do futuro...
O Amor é o que fica para além da dor.
Ainda bem que “teimamos em viver como se
fossemos eternos”...
Maria
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