No outro
dia entrei numa conversa a meio sobre as pequeninas coisas que
acabamos por perceber muito grandes. Na memória. Uma relação inversa entre
o tamanho da realidade e a intensidade do que sentimos. Nunca os factos
são do tamanho de si mesmos mas sim do efeito que têm em nós.
Um exemplo
concreto: não esquecer de forma nenhuma a bofetada do professor da primária e
quase não lembrar um 18 que tive na faculdade a uma disciplina que me devia ter
feito ponderar muito, muito, sobre as opções seguintes em termos de carreira. E
que não fez. Ignorei o 18 depois do sorriso na pauta e guardei a cara
a arder de raiva depois da bofetada.
Não se
esquecem certas coisas. Quase sempre as más. E esquecem-se,
diminuem-se, coisas certas. As boas. Quase sempre as que deixámos de lado
porque nos dava imenso trabalho arriscar nelas e enroscamo-nos nas que
paralisam porque assim-quietinhos-nunca-mais-nos-darão-bofetadas. Muito
confortável. Porque sair à rua e arriscar outros 18's é dar importância a
uma pessoa que, de certezinha, não nasceu para esse patamar.
E a partir
daqui é sempre a engrandecer aquilo que nos diminui. E a apagar aquilo que
devíamos saber aumentar. Enredamo-nos neste prazer mórbido de deixar que as
bofetadas nos marquem para além da validade e do tamanho que tiveram, de facto.
A mente
mente-nos. E ninguém nos consegue mostrar o tamanho - real - das coisas
pequeninas? Nem das que podiam ter crescido se tivéssemos deixado?
Como se
olha de frente para uma mente mentirosa? Dando-lhe bofetadas?
Alice Ramos
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