segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

A(s) memória(s) da Alice

No outro dia entrei numa conversa a meio sobre as pequeninas coisas que acabamos por perceber muito grandes. Na memória. Uma relação inversa entre o tamanho da realidade e a intensidade do que sentimos.  Nunca os factos são do tamanho de si mesmos mas sim do efeito que têm em nós.

Um exemplo concreto: não esquecer de forma nenhuma a bofetada do professor da primária e quase não lembrar um 18 que tive na faculdade a uma disciplina que me devia ter feito ponderar muito, muito, sobre as opções seguintes em termos de carreira. E que não fez. Ignorei o 18 depois do sorriso na pauta e guardei a cara a arder de raiva depois da bofetada.

Não se esquecem certas coisas. Quase sempre as más. E esquecem-se, diminuem-se, coisas certas. As boas. Quase sempre as que deixámos de lado porque nos dava imenso trabalho arriscar nelas e enroscamo-nos nas que paralisam porque assim-quietinhos-nunca-mais-nos-darão-bofetadas. Muito confortável. Porque sair à rua e arriscar outros 18's é dar importância a uma pessoa que, de certezinha, não nasceu para esse patamar.

E a partir daqui é sempre a engrandecer aquilo que nos diminui. E a apagar aquilo que devíamos saber aumentar. Enredamo-nos neste prazer mórbido de deixar que as bofetadas nos marquem para além da validade e do tamanho que tiveram, de facto.

A mente mente-nos. E ninguém nos consegue mostrar o tamanho - real - das coisas pequeninas? Nem das que podiam ter crescido se tivéssemos deixado?


Como se olha de frente para uma mente mentirosa? Dando-lhe bofetadas?

Alice Ramos

1 comentário:

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