quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

A Sara comenta...

Alice,

Ai, Alice!... Como eu a compreendo!...

Em contexto profissional utilizo com os meus clientes a expressão “varrer para debaixo de tapete”. Mas gosto mais da sua frase. É mais original e relevante! As costas doridas incomodam mais do que um tapete com má apresentação. J

As nossas costas. Os nossos afetos! As nossas ideias à volta dos afetos... e das pessoas! Principalmente, das pessoas: as que estiveram, as que poderiam ter estado, as que somente estiveram na nossa imaginação, as que estão, as que gostaríamos que estivessem (ou que tivessem permanecido... como nas nossas fantasias, é claro!), as que queremos que continuem a estar. Tudo em torno das pessoas e dos significados que lhes atribuímos nas nossas vidas!

Tenho andado a castigar as minhas costas ultimamente. O pior é que já nem sei o que é real nem o que é fruto de um desejo esquecido. Não sei se este delírio tem a ver com pessoas ou com afetos. E as minhas costas doem cada vez mais. O que fazer quando temos consciência dos riscos e nos atiramos vorazmente na sua direção? O que dizer quando o autor de ousada e irresponsável conduta é o mesmo que orienta outras pessoas na descoberta do seu caminho e na busca pela sua tranquilidade?

A Alice começou a libertar. Eu insisto em carregar... apesar das minhas costas estarem quase a vergar... A linha que acertou no buraco e coseu horas a fio, peças atrás de peças, está a esgaçar e ameaça romper em vários sítios. Como pode uma linha mostrar as suas fragilidades tanto tempo depois? Como pode uma linha romper quando já provou a sua resistência ao longo de tantas tempestades?

Ai, como me doem as costas! E tenho a vista tão turva de tentar acertar com o fio na agulha...

Sara





2 comentários:

  1. A Alice foca um ponto e que é "libertar de forma desonesta", quando o fazemos sem conseguir fazê-lo por dentro. O abandono de determinados padrões exteriormente que não refectem coerência em termos interiores. A angústia da Sara é muito isto. Por fora faz sentido, por dentro não. Para além das costas pesadas, que sente ela mais? Que deve fazer coincidir o exterior com o interior ou o interior (o que realmente sente) com o comportamento?
    É aqui que reside a dificuldade de dissolver a contradição. Somos quem mostramos ou o que sentimos e escondemos? Acredito que a Sara está a estalar. Ela terá que chegar à conclusão que, só estalando o verniz, chegará à sua verdade. Se estala nesta fase da vida dela é porque nesta fase da vida ela terá que ser quem é. De facto. Mesmo que a costura se rasgue toda. "A vida é um rasgar e remendar", já dizia o poeta.
    Um abraço!

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    1. Olá Marta! Obrigada pelo contributo:-)

      Eu acrescentava ainda mais um dilema à Sara: acho que ela se vê através da profissão e que não se consegue descolar deste papel, que ela assumiu como exigente e perfeccionista.

      A fronteira entre o exterior e o interior, entre o que somos e o que mostramos ser, com o passar dos anos pode sofrer alterações sem que tal tenha de ser obrigatoriamente mau. Eu acho que o mais importante é a pessoa se sentir "honestamente" bem consigo e com a vida.

      Um abraço,
      Ana

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