“Deitar
para trás das costas não é o mesmo que libertar". Começa assim a tomada de
consciência de que tenho as costas cansadas e de que é necessário libertar. Mas
libertar de forma honesta.
Apegamo-nos
às nossas ideias sobre o que os outros podiam ter representado na nossa vida,
choramos porque esses outros nos fazem falta, queremos voltar àquele momento
irredutível em que nos sentimos sintonizados com alguém que comungava do mesmo
olhar. Porque é raro. É-o pelo menos para mim. Não tendo a considerar especiais
todas as pessoas. Não quero que fiquem todas, não se trata disso.
Há um
momento em que me pareceu acertar, em que a linha entrou firmemente, sem
hesitação no buraco da agulha. Em que há um olhar que corresponde precisamente
à conversa que se segue. Há um encontro. Basicamente é isso: encontro. Comigo
não é fácil que exista. Não sou especial, não é isso. Mas sou suficientemente outsider no meio que frequento para
sentir que não encaixo quase nunca. E quando encaixo, não perco com facilidade,
não sei libertar. Não é que fique. Também não fico depois de sentir que não
passou de uma sorte momentânea, que a linha entrou direitinha no buraco por
casualidade. Que afinal a conversa que se seguiu não foi interessante. Apenas
porque não foi honesta. Mas fico enredada na memória. Onde falhei. Porque não
percebi. Foi um engano. Como o promovi. E isto é libertar de forma desonesta.
Porque está lá o apego às nossas expectativas e nunca está lá o sorriso em
direcção daqueles que são realmente diferentes do que imaginámos. Apenas porque
são e não é nada contra nós.
Estou a
libertar hoje. Devagar mas estou. As costas descansam.
Alice Ramos
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