segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Alice Ramos: Filhos a entrar na adolescência


Quem tem filhos a entrar na adolescência perdeu os abraços incansáveis em público. Ainda que fossem usados como moeda de troca para algum pedido, tantas vezes. Perdeu crianças dependentes. Perdeu até os filmes infantis, antes venerados, no cinema. Troca-se isso tudo por uma tarde de bowling, patinagem, cinema sim mas eu fico à espera cá fora pelo bando.

Desconheço-a completamente. Quer ser independente, tem consciência que está por uns anos em casa dos pais, nem imagina que seja de outra forma. Tem namorado. Uma coisa bonita (tento convencer-me disto) que funciona tipo (tinha de usar esta palavra) localizador por sms. "Estou em casa", "Vou Almoçar", "O que fazes?" ao que ela responde como mulher que é (vá, ainda não...) com um rol descritivo sobre tudo o que fez e faz no momento e pretende fazer de seguida. Até aqui, bonito. Lá vem o recado pela enésima vez: na tua idade não se dão beijos na boca! 

Mas ontem li a seguinte troca de mensagens: ela envia-lhe uma imagem com bonequinhos e a cada um correspondia uma descrição: chata, bonita, linda, estúpida etc. E ela perguntava em título: como me descreves? 

Tive esperança que o rapazinho respondesse qualquer coisa como "estúpida" e eu voltava a ser a mãe que dá colo como quando ela caía (e eu era tão importante). O estúpido do miúdo responde assim: "Nada disso. És a melhor coisa que me aconteceu na vida.". 
Vais cair, filha. Cá estarei.

Alice Ramos


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