Quem
tem filhos a entrar na adolescência perdeu os abraços incansáveis em público.
Ainda que fossem usados como moeda de troca para algum pedido, tantas vezes.
Perdeu crianças dependentes. Perdeu até os filmes infantis, antes venerados, no
cinema. Troca-se isso tudo por uma tarde de bowling, patinagem, cinema sim mas
eu fico à espera cá fora pelo bando.
Desconheço-a
completamente. Quer ser independente, tem consciência que está por uns anos em
casa dos pais, nem imagina que seja de outra forma. Tem namorado. Uma coisa
bonita (tento convencer-me disto) que funciona tipo (tinha de usar esta
palavra) localizador por sms. "Estou em casa", "Vou
Almoçar", "O que fazes?" ao que ela responde como mulher que é
(vá, ainda não...) com um rol descritivo sobre tudo o que fez e faz no momento
e pretende fazer de seguida. Até aqui, bonito. Lá vem o recado pela enésima
vez: na tua idade não se dão beijos na boca!
Mas
ontem li a seguinte troca de mensagens: ela envia-lhe uma imagem com
bonequinhos e a cada um correspondia uma descrição: chata, bonita, linda,
estúpida etc. E ela perguntava em título: como me descreves?
Tive
esperança que o rapazinho respondesse qualquer coisa como "estúpida"
e eu voltava a ser a mãe que dá colo como quando ela caía (e eu era tão
importante). O estúpido do miúdo responde assim: "Nada disso. És a melhor
coisa que me aconteceu na vida.".
Vais cair, filha. Cá estarei.
Alice Ramos
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