Alice,
A leitura do seu
texto tocou-me num ponto nevrálgico!
Cresci num
ambiente de mudança. Precisei de fazer amigos rapidamente para me integrar
mesmo sabendo que, algum tempo depois, assim como tinha chegado, teria de
deixar aquelas pessoas e lugares e reiniciar tudo de novo. Ainda não havia
internet e as comunicações internacionais eram caríssimas, pelo que o contacto
com os amigos que ficavam para trás era bastante irregular. Trocávamos cartas
e, se as nossas famílias fossem próximas, por vezes, conseguíamos conciliar
pequenas férias em conjunto. Era um mundo rápido com brutais oscilações nas
amizades: a transformação de sólido em líquido era constante... Contudo,
posso-lhe dizer que ainda hoje algumas dessas pessoas são minhas amigas, amigas
reais. São amigas à distância, mas que me conhecem como poucos e a quem eu me
revelo sem disfarces. E sabe porquê? Porque o pouco tempo que temos não nos
permite divagações nem desperdícios...
Acredito que o
estilo de vida que levamos condiciona as relações que estabelecemos com as
outras pessoas e, a pouco e pouco, vai influenciando os padrões de
comportamento que assumimos. Talvez por causa da minha experiência de vida, eu
tenha muita dificuldade em defender posições como a de Bauman. É verdade que
algumas pessoas parecem “fazer e desfazer
amizades” com excessiva rapidez e facilidade. Mas, também é verdade que, se
procurarmos bem, deverá existir um contexto que o justifique. O que eu quero
dizer, é que se calhar o conceito de amizade difere de pessoa para pessoa,
varia consoante a fase da vida em que está, os contextos em que se movimenta. Acerca
desse jovem que tem 5000 amigos, pode acontecer que ele precise de juntar sob a mesma designação amigos, conhecidos e
amigos dos amigos... Seria interessante voltar a conversar com ele daqui a uns
anos...
Mais do que nas
argumentações intelectuais, no que eu acredito, é que temos de estar atentos a
nós próprios, pararmos e questionarmo-nos de quando em vez:
-
Sinto-me bem com as relações que tenho?
-
Consigo criar laços reais com as pessoas que me tocam?
- Estou em sintonia com as pessoas
que são importantes para mim?
Uma vida acelerada
com a que temos hoje em dia, facilitada pela acessibilidade nos contactos e das
redes sociais, pode criar-nos a ilusão de estarmos rodeados de muitos amigos
permanentemente... alguns, amigos líquidos, outros nem tanto...
Até à próxima,
Mafalda
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