terça-feira, 17 de março de 2015

Os tempos líquidos


Zigmunt Bauman é um sociólogo que se debruça, para além de outros temas, num que me é caro. A questão da volatilidade com que vivemos as relações humanas. Numa entrevista ele desenvolve a impermanência dos laços. As pessoas têm imensos "amigos", quase sempre sem que os vivam realmente na pele e é com facilidade que se encantam. E com a mesma facilidade se desencantam. À distância de um click se fazem e desfazem amizades porque a liquidez dos tempos permite adicionar e eliminar amigos. Como se estivéssemos no supermercado e a euforia do consumo nos impingisse um carrinho cheio mas, antes de chegarmos à caixa para pagar, nos debatêssemos com a realidade. Começamos a despejar nas prateleiras o que antes achámos que nos fazia (supostamente) falta. O ser humano enquanto consumível. Descartável.

Bauman refere uma conversa que tem com um jovem que lhe diz que tem 5000 amigos. E ele responde-lhe que o conceito de amigo para ele é completamente diferente daquele a que nos habituámos, nós, os dos tempos líquidos. Bauman tem poucos amigos no alto dos seus quase 90 anos. E não acredita no jovem dos 5000 amigos.

Será possível fazer parte desse mundo rápido e liquido, com as pessoas a escorregarem-nos entre os dedos e, simultaneamente, construir laços reais com as pessoas que nos tocam?

Alice Ramos



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