Zigmunt
Bauman é um sociólogo que se debruça, para além de outros temas, num
que me é caro. A questão da volatilidade com que vivemos as relações humanas.
Numa entrevista ele desenvolve a impermanência dos laços. As pessoas têm
imensos "amigos", quase sempre sem que os vivam realmente na pele e é
com facilidade que se encantam. E com a mesma facilidade se desencantam. À
distância de um click se fazem e desfazem amizades porque a liquidez dos tempos
permite adicionar e eliminar amigos. Como se estivéssemos no supermercado e a
euforia do consumo nos impingisse um carrinho cheio mas, antes de chegarmos à
caixa para pagar, nos debatêssemos com a realidade. Começamos a despejar nas
prateleiras o que antes achámos que nos fazia (supostamente) falta. O ser
humano enquanto consumível. Descartável.
Bauman
refere uma conversa que tem com um jovem que lhe diz que tem 5000 amigos. E ele
responde-lhe que o conceito de amigo para ele é completamente diferente daquele
a que nos habituámos, nós, os dos tempos líquidos. Bauman tem poucos amigos no alto dos seus quase 90 anos. E não acredita no jovem dos 5000 amigos.
Será possível fazer parte desse mundo rápido e liquido, com as
pessoas a escorregarem-nos entre os dedos e, simultaneamente, construir laços
reais com as pessoas que nos tocam?
Alice Ramos
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