Será que tu não queres apenas pertencer a algo que te
permita cair numa categoria? Porque queremos fazer parte de um catálogo? Porque
é tão difícil sermos nós e aceitarmos as nossas particularidades? As que nos
isolam, sobretudo.
Não posso massacrar-te com o que acho porque tenho
sempre muito mais perguntas do que respostas.
Se eu usasse saltos altos finos e
cabelo comprido e em vez de uma mala de pele rafada dos tempos do liceu cheia
de cadernos e de livros, optasse por uma Furla que, por ser transparente,
só mostra o possível: um batom, a carteira bem estimada, um Iphone talvez... se
todos esses "ses" fossem factos e não hipóteses, a minha vida seria
mais fácil? Caía na categoria dos "normais"? Seria menos
solitária?
Se calhar se eu fosse assim, o rapaz que se senta ao meu lado na
biblioteca há tantos meses não sentisse receio de saber quem sou. Talvez. Mais
um "se". Porque ele usa mocassins e eu não costumo levantar os olhos
para enfrentar homens que se calçam assim. Mas talvez, só talvez, ele se sinta
bem na categoria dele e eu não tenha nenhuma onde encaixar. Como
tu.
Devias ir à biblioteca comigo, sabes? Tens medo da minha mala rafada?
Ou sou eu que tenho medo das tuas New Balance?
Alice Ramos
Sem comentários:
Enviar um comentário