quarta-feira, 13 de maio de 2015

QUANDO ALGUÉM PERTO DE TI ESCOLHE UM LIVRO EM VEZ DE TE SORRIR – Alice Ramos



Será que tu não queres apenas pertencer a algo que te permita cair numa categoria? Porque queremos fazer parte de um catálogo? Porque é tão difícil sermos nós e aceitarmos as nossas particularidades? As que nos isolam, sobretudo. 


Não posso massacrar-te com o que acho porque tenho sempre muito mais perguntas do que respostas. 
Se eu usasse saltos altos finos e cabelo comprido e em vez de uma mala de pele rafada dos tempos do liceu cheia de cadernos e de livros, optasse por uma Furla que, por ser transparente, só mostra o possível: um batom, a carteira bem estimada, um Iphone talvez... se todos esses "ses" fossem factos e não hipóteses, a minha vida seria mais fácil? Caía na categoria dos "normais"? Seria menos solitária?
 Se calhar se eu fosse assim, o rapaz que se senta ao meu lado na biblioteca há tantos meses não sentisse receio de saber quem sou. Talvez. Mais um "se". Porque ele usa mocassins e eu não costumo levantar os olhos para enfrentar homens que se calçam assim. Mas talvez, só talvez, ele se sinta bem na categoria dele e eu não tenha nenhuma onde encaixar. Como tu. 
Devias ir à biblioteca comigo, sabes? Tens medo da minha mala rafada? Ou sou eu que tenho medo das tuas New Balance?

Alice Ramos


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