terça-feira, 5 de maio de 2015

Dia da mãe menos feliz - Alice Ramos


Sou uma pessoa ansiosa. Quero tudo resolvido rapidamente, não suporto por muito tempo a dúvida, a espera destrói-me. Tenho esperança, sim. Mas se calhar é uma luz falsa. Porque ofusca-me no início, parece grandiosa mas cega-me. Gradualmente vou ficando sem saber onde por os pés e vem à superfície o desespero. 

Falo agora da doença. Daquelas que não esperamos, que exigem paciência e tempo. Não é a minha doença, antes fosse. Trata-se de um filho e um filho não nos pode ver chorar, não pode assistir ao desespero que assalta depois da tal esperança "luminosa" dos primeiros dias. 

Uma mãe não tem medo de nada (pode até confessar que sim, mas só de insectos com muitas patas). Uma mãe não tem direito a chorar perante a fragilidade do filho. Não. Engole tudo, sorri o seu melhor sorriso. E chora quando o filho não pode ver. 

O afecto verdadeiro é um grande mistério. Até a dissimulação passa a fazer sentido.

Alice Ramos


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