Querida Alice,
Ser mãe é uma
dádiva que nos traz constantes desafios. Perante um filho há todo um universo
de possibilidades e de sentidos: há certezas que se deixam de ter, rotinas
arreigadas que se alteram com toda a convicção, prioridades que se reequacionam
com a maior das facilidades, escolhas impensáveis que se tornam evidentes e
inquestionáveis... Há todo um sem número de mudanças a que aderimos sem
contestar só porque envolvem um filho – um filho nosso...
O amor por um
filho transforma-nos, torna-nos pessoas melhores... mas muito mais inseguras e
ansiosas!... Este amor incondicional leva-nos a querer protege-los de tudo e de
todos... E também da doença, da dor, da espera... Sobretudo porque a doença
daquele ser que tanto amamos nos confronta com a impotência de não conseguirmos
garantir a perfeição e a justiça nas suas vidas. Aos nossos filhos, que amamos
natural e profundamente, não podem acontecer imprevistos nem provações. Antes aconteçam
connosco! Com eles, nunca!...
Sabemos perfeitamente
que os obstáculos e as dificuldades fazem parte da vida. Aprendemos com eles.
Mas não conseguimos suportar ver um filho a sofrer. Quantas vezes sofremos mais
do que eles?! Quantos momentos choramos por pura antecipação de situações que
nem sempre se concretizam?! E quantas vezes dramatizamos o que eles encaram com
a leveza própria de quem tem ainda uma vida inteira para aprender a complicar?!
Minha querida
Alice, ser mãe é maravilhoso e simultaneamente terrível... é gratificante e
também extenuante... é intuitivo e indecifrável... e também é ensinar que
chorar é normal enquanto procuramos “chorar
quando o filho não pode ver”...
Bem-vinda ao clube
das contradições!
Sara (mãe e psicóloga dos filhos dos outros)
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