quinta-feira, 7 de maio de 2015

Amor (e dor) de mãe – Observações da Sara


Querida Alice,

Ser mãe é uma dádiva que nos traz constantes desafios. Perante um filho há todo um universo de possibilidades e de sentidos: há certezas que se deixam de ter, rotinas arreigadas que se alteram com toda a convicção, prioridades que se reequacionam com a maior das facilidades, escolhas impensáveis que se tornam evidentes e inquestionáveis... Há todo um sem número de mudanças a que aderimos sem contestar só porque envolvem um filho – um filho nosso...

O amor por um filho transforma-nos, torna-nos pessoas melhores... mas muito mais inseguras e ansiosas!... Este amor incondicional leva-nos a querer protege-los de tudo e de todos... E também da doença, da dor, da espera... Sobretudo porque a doença daquele ser que tanto amamos nos confronta com a impotência de não conseguirmos garantir a perfeição e a justiça nas suas vidas. Aos nossos filhos, que amamos natural e profundamente, não podem acontecer imprevistos nem provações. Antes aconteçam connosco! Com eles, nunca!...

Sabemos perfeitamente que os obstáculos e as dificuldades fazem parte da vida. Aprendemos com eles. Mas não conseguimos suportar ver um filho a sofrer. Quantas vezes sofremos mais do que eles?! Quantos momentos choramos por pura antecipação de situações que nem sempre se concretizam?! E quantas vezes dramatizamos o que eles encaram com a leveza própria de quem tem ainda uma vida inteira para aprender a complicar?!

Minha querida Alice, ser mãe é maravilhoso e simultaneamente terrível... é gratificante e também extenuante... é intuitivo e indecifrável... e também é ensinar que chorar é normal enquanto procuramos “chorar quando o filho não pode ver”...

Bem-vinda ao clube das contradições!

Sara (mãe e psicóloga dos filhos dos outros)



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