segunda-feira, 6 de abril de 2015

Resoluções/Tempos interiores – Alice Ramos



Demoro imenso tempo a sair de situações, de contextos, de relacionamentos, que não me preenchem. Tenho uma esperança quase absurda na resolução, luto antes de desistir das pessoas, dos contextos, seja do que e de quem for. Levo essa esperança a um nível extremo de sentir que esses momentos, apesar da dor associada, me farão mais forte à frente, menos vulnerável. Acredito que tudo o que acontece tem uma razão para acontecer e não é saindo a correr desses estados que ficarei resolvida. Saio, mas saio quando é o momento de sair. Porque saio desde um ponto fundo e não baseando-me em leituras light dessas teorias acerca da felicidade automática, como decisão, como decreto. 
Acredito que há uma evolução que é interior e que não podemos apressá-la sob pena de fingir resoluções que são apenas exteriores. Se por dentro continuamos ainda ligados a esses processos, então temos de aceitar que estamos. E viver esses dias (que quase sempre são angustiantes) sabendo intimamente que terão fim. 
E quando saio fico muito perto de mim, da minha verdadeira natureza, daquilo que é a liberdade como a interpreto: aprender a escolher, escolher com base na pessoa que sou e não me culpabilizar tanto. 
E quando saio, fico uma pessoa diferente. Que, assumo, se torna irreconhecível, para as pessoas que viveram os meus períodos de angústia. Trata-se de renascer várias vezes. E quando mais se morre, melhor se nasce de seguida.

A questão aqui é: quem sou eu? A pessoa que conheceste num momento em que te sorri nos olhos? Ou a pessoa que te relativizou a partir do momento em que aceitou que os teus olhos não sorriram nos meus?


Alice Ramos

Sem comentários:

Enviar um comentário