Demoro imenso tempo a sair de situações, de contextos,
de relacionamentos, que não me preenchem. Tenho uma esperança quase absurda na
resolução, luto antes de desistir das pessoas, dos contextos, seja do que e de
quem for. Levo essa esperança a um nível extremo de sentir que esses momentos,
apesar da dor associada, me farão mais forte à frente, menos vulnerável.
Acredito que tudo o que acontece tem uma razão para acontecer e não é saindo a
correr desses estados que ficarei resolvida. Saio, mas saio quando é o momento
de sair. Porque saio desde um ponto fundo e não baseando-me em leituras light
dessas teorias acerca da felicidade automática, como decisão, como
decreto.
Acredito que há uma evolução que é interior e que não podemos
apressá-la sob pena de fingir resoluções que são apenas exteriores. Se por
dentro continuamos ainda ligados a esses processos, então temos de aceitar que
estamos. E viver esses dias (que quase sempre são angustiantes) sabendo
intimamente que terão fim.
E quando saio fico muito perto de mim, da
minha verdadeira natureza, daquilo que é a liberdade como a interpreto:
aprender a escolher, escolher com base na pessoa que sou e não me culpabilizar
tanto.
E quando saio, fico uma pessoa diferente. Que, assumo, se torna
irreconhecível, para as pessoas que viveram os meus períodos de angústia.
Trata-se de renascer várias vezes. E quando mais se morre, melhor se nasce de
seguida.
A questão aqui é: quem sou eu? A pessoa que conheceste
num momento em que te sorri nos olhos? Ou a pessoa que te relativizou a partir
do momento em que aceitou que os teus olhos não sorriram nos meus?
Alice Ramos
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