Há
pessoas que são esponjas emocionais. Sem querer, quase sempre tropeçam em seres
humanos dotados de angústias permanentes, de uma carga de dor incapacitante.
Amigos que não conseguem sair desse ciclo de negatividade.
Há
pessoas que acreditam que se deixarem de estar disponíveis para dar um bálsamo
a esses seres humanos estarão a ser egoístas, a desistir de ajudar o próximo.
Levam isso a um ponto de quase-missão e não abandonam, ainda que se fale na toxicidade
desses seres humanos.
Essas
pessoas absorvem esse lado mais frágil dos seres humanos com quem se relacionam
e, efectivamente, podem ajudar a aliviar a carga. Mas chego à conclusão que é
uma ajuda enviesada. É uma ajuda que não ajuda assim tanto porque não oferece a
esses seres humanos a real dimensão do que é ser-se humano porque os concentra
na sua dor sem os obrigar a transbordar outras emoções.
A
real dimensão do que é ser-se humano não é apenas sombra, embora ela exista
dentro de cada um de nós. Um dia, um amigo meu disse-me que lhe tinham dito
isto: "quem não souber esconder a sua tristeza, não merece relacionar-se
com os outros”. Esta frase é chocante. Perversa até. Ninguém tem de esconder a
tristeza na relação com os outros. A questão é outra, mais profunda.
Quem
não souber partilhar a sua tristeza e a sua alegria, talvez sim, tenha
dificuldade em ter amigos verdadeiros. As esponjas emocionais são AMIGOS e não
apenas contentores da negatividade se sentirem que os outros partilham também
as suas alegrias.
Ninguém
é sempre triste, sempre melancólico, sempre negativo. Há momentos em que até a
pessoa mais “negra” dá por si a apreciar um pássaro a chilrear e sorri. É
nestas alturas – também – que deve partilhar com os amigos o que sente.
As
esponjas emocionais, portanto, querem as emoções todas dos outros seres humanos
para se sentirem também elas parte desses seres humanos de forma permanente e
não apenas quando há nuvens muito negras dentro da cabeça desses amigos.
Ah
e as esponjas emocionais também têm momentos de grande dor. Só que não fazem
dos amigos meros contentores. Dizem-lhes, sobretudo, dos pássaros que lhes
cruzaram o olhar.
Isso
sim é amizade.
Obrigada por me ouvires e chorares e rires comigo.
Alice Ramos
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