O que fazer quando
vamos cada vez acreditando menos? Valerá a pena continuar quando nos sentimos
gradualmente a afastar do objectivo inicial? Até quando devemos investir num
projeto para todos que é apenas desenvolvido por alguns?
Um dia tive um
sonho e fui chamada a torná-lo realidade. A tarefa era árdua, sinuosa e cheia
de problemas... quase impossível... Sabia-o à partida, mas acreditei na força
conjunta de quem quer criar. Os desafios foram imensos, tive muitos obstáculos
iniciais, muitos momentos de desalento, muitas forças de resistência... Como
obreira motivada segui em frente, usando como motor o objectivo de construir
algo melhor para todos, de ajudar a desenvolver e a descobrir o potencial de
cada um (e de levá-los a acreditar, a concretizar o sonho). Foi extenuante, mas
o sentido de realização superava as noites mal dormidas, os percalços que
abriam feridas, a dúvida que, por vezes, se insinuava para além do desejo
consciente. Valia a pena. Ia ser verdade.
Cegamente
continuei, olhando apenas para os sinais que reforçavam o sentido da minha
missão. Quantas vezes me esqueci do eu para além do projeto e ignorei ofensas
indiretas de quem não comunga do mesmo “estar”?! Nunca os valorizei, nunca os
deixei ganhar espaço para me questionar incomodamente. Mas os momentos de desalento foram
continuando e comecei a ter dificuldade em calar a voz interior que insistia:
“Ainda achas que vale a pena? Ainda acreditas no sonho? Alguém te segue?”
O que fazer quando
chegamos a uma encruzilhada, em que nos sentimos esgotados e acompanhados
apenas por aqueles que aprenderam a acreditar connosco? Será justo ou leal
deixá-los lutar por algo que começamos a duvidar? Não podemos impor sonhos a
quem não pretende levantar voo...
Sim, acredito no
sonho – ontem, hoje, amanhã, sempre. Sim, valeria a pena vivê-lo e deixá-lo ser
vivido, mas... outros caminhos florescem e não sei se há espaço para este
sonho... Continuo ou deixo cair o sonho?
Mafalda
Sem comentários:
Enviar um comentário