Imagens do livro Dilemas Femininos, publicado pela Chiado Editora (2014) |
Sinto um peso enorme na cabeça, os olhos
teimam em fechar... Acumulo noites mal dormidas, com muitas interrupções do
sono. O Rodrigo anda a dar sinais e nem sei bem como os interpretar. Tempos
ouve em que nada disto me consumia, em que nem sequer percebia se os meus
filhos tinham algum tipo de dificuldade – o meu chip estava completamente
programado para outra direção.
Agora tudo é diferente e estranho.
Sinto-me a dar os primeiros passos na aventura da maternidade e com dois filhos
já crescidos. Foi preciso dar uns quantos tropeções, um deles com o pomposo nome
de divórcio, para reorientar a minha vida e repensar as minhas escolhas. Ser
mãe é simultaneamente delicioso e assustador! Começo a criar laços, a interagir
mais e com alguma entrega emocional aos meus filhos. Vou devagar eu sei, mas
este é o ritmo a que consigo caminhar. Criei uma agenda pessoal com horas
destinadas exclusivamente a eles. Tive de o fazer, caso contrário, surgiriam
sempre urgências inadiáveis no trabalho e era eu quem as teria de resolver. Foi
assim no início: planeava, mas nunca concretizava. Havia sempre algo a
desviar-me das minhas intenções. O maior imprevisto era o medo... da entrega,
do desconhecido, das emoções, de entrar em terreno totalmente novo e sem me
sentir preparada para o enfrentar.
Vale a pena? Sinto-me mais satisfeita com
o meu novo “eu”? Tem dias, depende dos momentos...
Valer, sim, vale. Sinto enormes dificuldades, tenho muito medo de errar,
sinto-me completamente impreparada e o peso da responsabilidade pelo destino
destes dois seres é gigante. Mas vale a pena. Cada dia que passa vale mais um
bocadinho. Aprendo, entre apertos no coração e insónias noturnas, a sentir-me
plena com um simples toque ou um sorriso sincero. As crianças são tão simples! Descubro
que a felicidade são momentos, pequenas coisas... todas elas singelas e omissas
nos livros sobre parentalidade (ou pelo menos, naqueles que eu fervorosamente
li quando me decidi ser mãe de verdade). Fiz terapia, andei confusa anos e anos
a fio, sempre insatisfeita. Curiosamente, encontro-me mais serena agora que saí
da minha zona de conforto (que de conforto nada tinha e eu nem percebia!). Como
somos seres estranhos: na minha área forte não era feliz e nem me sentia realizada;
num campo novo, desconhecido, evitado por medo e algum egoísmo encontro
finalmente Paz, Tranquilidade, Completude. Foram os meus filhos, estes pequenos
rapazotes que tanto precisam de mim, foram eles que me ensinaram a parar,
observar, deixar-me ir e sorrir... com tudo e por nada. Aprendi que a
felicidade vai e vem, vem e vai, num ciclo sem dia nem hora marcada, surge do
imprevisto, da imperfeição.
Há dias complicados. Hoje é um deles. Tenho
tantos. Ando com a cabeça às voltas e apetecia-me fugir por umas horas para o “antigo planeta da Mafalda”. No trabalho
sei que sou bem sucedida. Tenho poucas dúvidas, facilmente esbarro no sucesso,
sinto-me segura e poderosa. Sei qual é o caminho e consigo prever os
resultados. E as emoções não atrapalham... ficam guardadas numa caixinha onde
não fazem mossa. É tão fácil fingir, refugiar-me. É tudo oco e também fugidio,
mas não sinto medo. Não me sinto completa, mas também não tenho de enfrentar o
medo e as dúvidas. Viver com as nossas emoções custa, é ambíguo, dá trabalho...
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