Os filhos mentem
aos pais. Uns mentem pouco, outros mentem muito. Algumas mentiras são inocentes
e outras são mais complexas e elaboradas, com objectivos mais ou menos claros.
Na maior parte das vezes são mentiras por Amor e assumem contornos distintos em
função da fase da vida de cada um dos envolvidos e do tipo de relação que
desenvolveram:
Ø
A
criança pequena passa por um período de fantasia, onde a mentira espelha a sua
imaginação e revela a permeabilidade entre o real e o imaginário. Mente aos
pais quando partilha as suas fantasias, quando lhes permite entrar no seu
mundo. Partilhar é uma prova de amor.
Ø
O
adolescente oculta aos pais (grande) parte das suas experiências no mundo
proibido - as experimentações, os disparates, os limites ultrapassados, os
riscos... Mente por receio das consequências, porque sabe que os pais
reprovariam a sua conduta, porque sabe que os desiludiria. Amar significa não
querer desapontar o outro.
Ø
A
entrada na idade adulta caracteriza-se pelo assumir de novos papéis sociais – o
trabalho e a emancipação, o inicio da sua própria família. Estes novos desafios
podem conduzir a uma reaproximação entre pais e filhos, funcionando os
primeiros como um suporte essencial no sucesso dos segundos. Contudo, este novo
estatuto de “igualdade” poderá também gerar receios que o filho esconda para
não comprometer a sua credibilidade. Uma vez mais o Amor: o filho que quer corresponder
às expectativas dos pais, os pais que se mantêm disponíveis para ajudar e apoiar.
Ø
O
adulto maduro mente para proteger os pais, numa fase em que os papéis
dolorosamente se invertem e onde passam a cuidar de quem deles já cuidou. O
filho mente quando finge que não percebe a deterioração nos pais, quando simula
naturalidade ao cuidar deles, quando apenas partilha as alegrias do quotidiano
numa fase em que tem de aprender a lidar com o desafio do fim de quem lhe deu a
vida.
Em todos os
momentos, o Amor, sempre o Amor. O Amor que se mascara de mentira para proteger
os laços afectivos. O filho que mente para não magoar os pais e os pais que
mentem ao fingir que não dão pela mentira. A mentira que persiste como alimento
do Amor... porque há mentiras que são saudáveis...
Sara
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