Terminei
de ler um livro que narra a história de um rapaz que viveu a sua adolescência
internado num hospital a lutar contra a doença. Uma parte considerável da sua
existência, entre os 14 e os 24 anos, decorreu entre intervenções cirúrgicas,
exames e tratamentos penosos. Dizia ele que quando miraculosamente foi dado
como curado era já um jovem adulto a quem tinham privado de todas as loucuras e
experiências da juventude. Quem era ele afinal? Um adulto com vivências de
criança entorpecidas por 10 anos de batalha dentro das paredes de um hospital.
Como reconstruir a sua identidade?
Pensei
na minha infância. Na menina tímida e insegura que fui. No medo que já existia
e que foi crescendo a um ritmo ainda mais acelerado do que os ossos do meu
corpo. No que é que aquela menina contribuiu para a mulher firme e determinada
que sou hoje? Como é que a insegurança extrema se transformou em vitória contra
os fantasmas da hipocondria? Terá sido obra daquela menina tímida esta
flexibilidade emocional para aceitar a reaproximação do meu pai biológico à
minha vida de adulta e, especialmente, ao mundo da minha mãe outrora
abandonada? Como é que umas raízes tão frágeis deram lugar a tantas mudanças
corajosas? Poderá a continuidade fazer-se com a ruptura, com a diferença?...
Voltei
a pensar no livro que li e comparei com o meu percurso. A insegurança, a
fragilidade, a incerteza trouxeram-me dificuldades, desafios e (muitas) dores.
Para continuar tive de pensar no que não queria, perceber porque era assim e
como poderia vir a ser. Tive de enfrentar os meus próprios medos e resolver os
desafios que me foram aparecendo. Tive
de viver! Acho que isso é que é a tal experiência de que falam os
entendidos. É a experiência que dá
sentido e conteúdo ao que somos e ao que vivemos... Hoje... e nos anos que
passaram por mim, por nós... A experiência dá-nos um outro entendimento sobre a
infância, a juventude e a idade adulta. No meu caso deu-me o olhar da RECONCILIAÇÃO.
Maria
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