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(Imagens do meu livro, "Dilemas Femininos", págs.: 75 e 162 - Luisinha) |
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No outro dia os pensamentos fugiram-me
para o Amor. Seguramente sou uma pessoa diferente e as minhas ideias devem de
parecer estranhas para a maior parte das pessoas. Assumo as minhas
singularidades. Mas também rejeito que todos tenhamos de sentir da mesma forma.
O tempo vai-nos moldando os pensamentos,
as teorias, os sentimentos, o jeito de os viver e a forma de agir. Ao longo da
minha vida, na maior parte das vezes, cada um destes aspetos pendeu para o seu
lado e as contradições foram mais do que muitas. Tenho consciência que
alimentei a áurea de mistério ao meu redor e que criei um espaço demasiado
grande entre mim e as pessoas com quem mais convivi. Mas, será isso suficiente
para me tornar uma pessoa destituída de sentimentos? Será que alguém foi mais
prejudicado do que eu com esta postura? Quem é que, para além de eu própria,
terá propriedade para opinar acerca do meu jeito particular de amar? Haverá
formas de amar mais válidas do que outras?
Amei muito. Amei todos os projetos em que
me envolvi. Sempre e com muita intensidade... como se fossem únicos e
derradeiros. Amei as pessoas que fizeram parte da minha vida ainda que elas
pudessem nem se aperceber... Amei a olhar em frente, para o futuro... Amei, amo
e continuarei a amar.
Amei o meu trabalho (mais do que a carreira invejável que construi). A
carreira foi o resultado do esforço e da dedicação com que me entreguei, nunca
foi um objetivo. Esta foi desde o inicio uma característica que me distinguiu dos
demais. Os meus objetivos sempre se prenderam com realizar bem o trabalho, com
superar-me nos resultados, com o querer fazer sempre mais e melhor... Com
honestidade, sem atropelar ninguém e sem entrar em guerras de poder...
Amei a minha família. Os meus pais que me deram o seu melhor. Amei-os sempre,
mesmo quando me zanguei com as escolhas de vida que fizeram e que se
distanciavam do que eu queria e sonhava. Amei-os na sua ignorância, mas
sobretudo no seu amor. Amei a minha tia. Amei o seu (também) estranho modo de
me amar, a sua excessiva preocupação com a minha educação e saúde, a sua
exagerada austeridade. Foram precisos muitos anos para perceber que essa era a
sua única forma de me amar... Amei o
António: o homem que eu imaginei e por quem me deixei iludir e enganar. Amei sobretudo
o sonho do que poderíamos ter construído... e, na sua derrocada, recusei
deixar-me voar de novo. Amei o meu filho tão precocemente de mim arrancado.
Amei-o de tal forma que em sua homenagem decidi reerguer-me dos destroços
deixados pela sua ausência. No meu lugar, alguns teriam desistido, mas, no
desespero da perda, quis perpetuá-lo na minha vida continuando a lutar e a
entregar-me de alma e coração às minhas causas diárias... para que ele pudesse
ter orgulho em mim, do lugar onde me espera...
Amei a maioria das pessoas com quem trabalhei. Amei-as na distância que coloquei entre
nós. Amei-as no respeito que por elas nutri e com que sempre as tratei. Amei
particularmente as pessoas mais simples e vulneráveis, aquelas que ajudei sem
que elas disso se apercebessem. Amei-as autenticamente pois nunca o fiz à
espera do seu reconhecimento.
Amei de forma estranha, eu sei. Amei para
mim, intensa e internamente. Amei sem esperar retorno, sem me expor ou dar
visibilidade a mim própria. Amei sobretudo quando sofri. A cada abanão segui em
frente dedicando-me a um novo amor. Com a fúria e a garra de quem sofre... e
até me apaziguar. Amar foi a minha resposta aos percalços da vida!
Continuo a Amar! Hoje, amanhã e todos os
outros dias que se seguirem! Na Fundação, nas causas que defendo, nas pequenas
obras que vou empreendendo. Amo através da entrega pessoal. Este é o meu jeito
de Amar... o que desenvolvi face a tudo o que vivi e que representa a minha
história pessoal. Poderá não ser o melhor, mas é o meu e é verdadeiro.
Luisinha
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